segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

019 - Os Herdeiros (versao revista)

Começou a nevar. Parei de escrever porque estava a ficar com dores no pulso. Bem me arrependo de não ter trazido o meu iBook. Não me lembro de alguma vez ter escrito tanto à mão. Mas preciso disto. No momento em que fui para a janela encostar a testa ao vidro para me refrescar (estes austríacos são uns fanáticos do aquecimento central) o meu cérebro voltou ao caos dos últimos dias. É demasiado. Escrever ajuda-me a focar e sinto que as coisas que te devo dizer são coisas que eu próprio preciso saber, mesmo que sejam memórias minhas. A nossa condição de humanos é tão imperfeita… Fazer sentido das coisas não é o mesmo que recordá-las e muito menos vivê-las na pele...
Depois também estive a ver televisão, mas nem o canal porno (grátis!) me conseguiu distrair. É esta certeza de que o Jaime está em perigo que me deixa completamente desfeito. Como ele estava diferente em tua casa! Como pode uma semana mudar tanto assim uma pessoa?
Que pergunta…eu sei. A mesma semana fez com que eu agora nem me reconheça no espelho. Esta barba, esta cicatriz.
Ele está em perigo e é por minha causa. Eu sei. Sinto-o. Porque outro motivo me esconderia ele tanta coisa? Se a seta com que me fez esta ferida me tivesse atingido no coração eu não duvidaria por um segundo de que foi lançada por amor. Felizmente ele tem boa pontaria... e esta ferida não é nada. O que me dói é que ele julgue que me pode proteger mantendo-me longe e ignorante do que se passa. Que pateta. Que idiota!
E como eu estou preocupado, Joana. É que ele é um bocado de mim, e não adianta que seja ele a sofrer em vez de mim. A dor é sentida pelos dois (tu viste como ele chorou por me ter ferido). E ele É meu irmão. MEU irmão!

4 comentários:

/me disse...

Desculpa só criticar, mas gabar não ajuda. :p
Pessoalmente não gosto da referência ao canal porno. Não sei porquê... Parece conspurcar memórias bem mais puras, parece deslocado, não parece real que alguém que conte as suas memórias vá referir isso sem mais constrangimentos... Ou talvez sim.

Também não gosto da referência à "seta com que me fez esta ferida ". A Joana sabe de que foi a ferida, ele sabe de que foi a ferida. Qual a necessidade de explicar que foi a seta a fazer-lhe a ferida? Os leitores subentendem :)

Daniel J. Skråmestø disse...

as críticas ajudam mais do que os elogios, por isso obrigado.

Estes comentários que fazes têm todo o cabimento de serem feitos pelo leitor nesta altura do campeonato. Acontece apenas que o leitor não sabe ainda quem é a Joana e qual o papel dela nesta história toda.

Vou tentar justificar sem estragar a história:
1 - O António refere o canal porno porque quer chocar a Joana e insistir na sua ligação sexual ao Jaime.

2 - A seta não é metafórica, o António é que aproveita a referencia para a transformar numa metáfora.

/me disse...

1- Possivelmente o mal é meu, porque gosto sempre de eufemismos... Mas tal como disse num outro comentário (a um post posterior), gostava mais que a personagem do presente se imiscuisse o mínimo possível na história, até porque seria normal que ele também tivesse pudor em se apresentar como é agora à Joana (pelo que entendo), e quisesse mostrar como foi evoluindo, como é normal mas também fruto da história. Se ele for mostrando a história pelos olhos de si enquanto criança, vai evoluindo...

Olha, prefiro que não me respondas a este tipo de críticas, porque se estás a escrever não te deves justificar. Se aceitares a crítica aceitas, se rejeitares, rejeita, mas guarda isso para ti. Senão acho que é prejudicial para a escrita. Eu critico na mesma. :P

Daniel J. Skråmestø disse...

Eu gosto de eufemismos mas alternados com um toque de brutalidade. Por acaso é um comentário que ouço muitas vezes, isto de estar a ser elegante e pelo meio partir a loiça. Mas embora eu me divirta com isso e seja, na maioria das vezes propositado, é bom que mo digam para eu ter noção do impacto do choque. Às vezes é demais e eu próprio acabo por o reconhecer.

Quanto a não responder, só não respondo a críticas inconsequentes e destrutivas, coisa que as tuas não são. De resto acho muito saudável entrar em diálogo com leitores do que escrevo. Se o que escrevo fosse intocável não o publicava num blog, estava antes entretido a gravá-lo em pedra.