quarta-feira, 31 de agosto de 2005

a cambalhota

ontem revi o filme "E a tua mãe também" que tinha visto no cinema há cerca de 4 anos. É curioso como agora percebi o filme de uma maneira diferente.
Na altura irritou-me um pouco a voz off que entrava frequentemente para dar pormenores da vida e dos destinos de personagens que não tinham nada a ver com a história que estávamos a ver. Parecia-me irrelevante.
Agora é que percebi que a história principal é que é quase irrelevante e que o que o filme faz não é um retrato de 3 personagens mas que antes usa essas 3 personagens para fazer um retrato do México enquanto país e sociedade.
Para além dessa voz off e desses comentários, a câmara está sempre a olhar para o lado, para a janela. Muito mais do que para as personagens.
As personagens vivem um momento especial, uma viagem que está quase fora do tempo, das convenções sociais e do próprio espaço. O carro é como uma cápsula que os protege do exterior, e mesmo quando saem daí, o núcleo das 3 personagens está completamente fora do resto do mexico que os rodeia mesmo que interaja com ele, como por exemplo na crucial cena final em que os 3 se embebedam numa mesa longe da outra mesa dos pescadores.
E ao ver o filme desta maneira, o que a principio me tinha parecido uma comédia sexual transformou-se numa tragédia social.
Gosto tanto quando a minha percepção das coisas dá uma cambalhota...

terça-feira, 30 de agosto de 2005

ele e ela

Ontem vi o DVD da Reality Tour do David Bowie.
Foi bom relembrar o concerto que fui ver a Paris para celebrar o meu 30º aniversário (este ano já serão 32!!).
Não é à toa que eu amo aquele homem. Num concerto para milhares de pessoas ele consegue comunicar com cada alminha. E parecer feliz com o que faz.

E anteontem, noutra sessão de DVD perguntava-me: Que raio faz a Madonna num episódio de Will & Grace? É incrivel como não consegue ter graça nem ponta de naturalidade. Será que não desiste de tentar ser actriz?! E não parece estar a envelhecer bem. Demasiado botox. O Bowie au naturel tem muito melhor aspecto que ela.

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

sing, sing a song...

Na sexta feira fui ao aniversário de um amigo meu que ofereceu a todos os convidados um CD com a sua banda sonora para 2005. Uma boa idéia (não pensemos na pirataria) já que trazia umas cançõezitas jeitosas que eu não conhecia.
Foi uma boa ocasião para fazer mais uma afinação ao meu iPod que, por ter os seus 10Gb completamente atafulhados, neste momento só aceita canções verdadeiramente boas, capazes de roubar o lugar a outra que já lá esteja dentro.
Apanhando o espírito da playlist, fiz um pequeno "top eleven" com "as canções da minha vida". É um conceito foleiro, mas apeteceu-me partilhar. São algumas das canções que me dão sempre um arrepiozito de prazer e nas quais reconheço resquícios da minha verdadeira identidade. Voilá:

New Order - "Vanishing Point"

Cocteau Twins - "Cherry Coloured Funk"

The White Birch - "Donau Moves"

Lloyd Cole and the Commotions - "Forest Fire"

Red House Painters - "Rollercoaster"

Grant Lee Buffalo - "Fuzzy"

Cowboy Junkies - "Sun comes up it´s tuesday morning"

Pet Shop Boys - "Always"

Propaganda - "Dream within a dream"

Dead Can Dance - "Indoctrination"

Né Ladeiras - "Sedutora"

sexta-feira, 26 de agosto de 2005

os amigos talentosos

Está patente na Casa da Morna em Alcãntara a exposição do meu amigo Francisco. Recomendo que passem por lá que vale a pena.

Da minha parte fiquei eu com pena de não ter uma parede lá em casa onde caiba esta "coisa":



Se calhar está na altura de mudar de casa....
porque no fim de semana, ao visitar o atelier do meu amigo Matthew Stradling ( www.matthewstradling.com ) fiquei completamente fascinado por isto:



que também não é pequenito...

Começo a compreender o problema do senhor Berardo. Tivesse eu o dinheiro que ele tem e também estaria à rasca para não deixar a arte à chuva.

Little sister

Chegou-me finalmente aos ouvidos o CD da Martha Wainwright, a irmãzinha do Rufus.
Eu já a tinha em grande conta desde "year of the dragon", a pérola maior do mui recomendável album "the McGarrigle hour" em que a familia McGarrigle/Wainwright se junta para cantar depois de uns copos.
Comprova-se que não só os filhos dos peixes sabem nadar, mas as irmãs também.
Seja bem vinda ao meu iPod, menina Martha!!

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

material girl

Para além de ter dado uns pénis (hihihi!) a um pedinte e ter contribuido significantemente para o enriquecimento da rede de transportes ingleses ainda gastei dinheiro em:

DVDs
Will and Grace - season 5 (20 euros mais barato que na FNAC chiado)
A casa das adagas voadoras
O Regresso
y tu mama tambien
Entrevista com o vampiro
...e mais um filme japonês cujo nome agora não me ocorre... (3 DVD a 17£ na HMV do aeroporto... e eu não resisto a pechinchas)

Livros
"time and the gods" - Lord Dunsany
"Soul of the fire" - terry goodkind
"Guilty pleasures" - Laurel K Hammilton
(3 livros por 18£ no quiosque do aeroporto....e eu não resisto a pechinchas)

ou seja, delicious trash!!!

Curiosamente 90% do meu tempo em livrarias foi passado na secção infantil. (os outros 10% na de FC e Fantasia)

O ponto alto da viagem foi o gigantesco dinossauro de Lego na secção de brinquedos do Harrod's.

A passagem (breve) por Old Compton Street só serviu para confirmar outra vez que não sou "gay profissional". Mas é sempre giro visitar a familia.

Confirmou-se ainda que o Mela em Convent garden continua a ser o melhor restaurante indiano do mundo. Enganei-me no menu e pedi "Jaquinzinhos" pensando que estava a pedir uma posta de peixe branco. Eu ODEIO jaquinzinhos. Mas quem diria que quando são fritos revestidos de cardamomo e servidos com molho de menta se tornam numa iguaria divina?... não há nada como ver os nosso preconceitos a cair por terra. Da próxima vez que lá for tenho de ver se servem mioleira ou tripas...

No final dei por mim a pensar que afinal, se calhar, um dia, até vou conseguir gostar de Londres.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

O truque do cao

A melhor coisa das viagens é o modo como de repente se vê as coisas de outra perspectiva. Depois de um fim de semana em Londres voltei cheio de saudades dos nossos multibancos e das nossas máquinas de venda de bilhetes de metro que dão troco a notas de 10. Também sou da opinião de que todos os países do mundo deviam ter a mesma moeda. É tão demodé ter de estar a fazer cambios. E controle de passaporte está definitivamente out. Afinal para que é que os ingleses estão na comunidade europeia?! Já é mais que tempo de fazer uma directiva europeia que os obrigue a conduzir no lado certo da estrada, a terem tomadas que não pareçam uma central electrica sovietica dos anos 50 e a usarem o sistema métrico e os graus centígrados.

De facto há momentos em que uma pessoa só pode ser a favor da uniformização pela simples razão de que facilita a vida a toda a gente. Mas depois, como não podia deixar de ser, vem o reverso da medalha. O momento em que o mundo se transforma na aldeia global e se percebe que as cidades se estão a tornar todas iguais. Quando um centro comercial em trás os montes tem as mesmas lojas (zara, macdonalds, body shop, benetton) que um em Londres, Berlin ou Badajoz. Quando os motoristas de autocarro de Londres se saem com as mesmas bocas foleiras dos de Lisboa. Quando se repara que o público que vai às sessões da cinemateca de Oslo parece feito de irmãos gémeos dos que vão às sessões da cinemateca de Lisboa...

Mas o que me saltou à vista em Londres foi o truque do cão, ou seja, a quantidade enorme de pedintes que usam um cão para atrair a caridade alheia. Porque comigo funciona! Depois de um treino de décadas a viver em grandes cidades o meu coração tornou-se impremeável a ciganitas descalças, ceguinhos estropiados, imigrantes esfomeados e à miséria humana em geral. Mas há qualquer coisa nos olhos de um cão que me parte o coração. (E deixo ficar a rima porque dá á frase um toque foleiro que é absolutamente genuíno). Por alguma razão chamei ao meu primeiro livro "olhos de cão".

Ao ver que em Londres, tal como em Lisboa, também há pedintes que passam o dia na rua abraçados ao seu cão tornou-se para mim evidente que a coisa é um truque. Uma construção, como a dos pedintes que exibem as suas chagas, feridas e membros decepados. E quando este pensamento me surge sinto-me indignado, ultrajado, enganado. Isto dura 3 segundos porque logo me surge outro pensamento sobre a minha caridade desumana. De como me consigo preocupar mais com um animal do que com um humano. Será isto mau? Bom não é de certeza...

Mas depois penso: O que é que de facto me comove no pedinte com cão?
Em Londres o que me fez puxar da moedinha foi um tipo que, sentado num cartão, indiferente à multidão que jorrava da saída do metro, beijava o seu rafeiro atrás das orelhas enquanto o abraçava. Naquele momento, o cão era a única coisa que importava no mundo para ele. Era o único sitio de onde lhe vinha qualquer coisa parecida com amor.
E quando percebi isso percebi que de facto estava a dar dinheiro áquilo que de facto me parece essencial no ser humano: a capacidade de amar incondicionalmente, que é uma coisa que só nos permitimos mostrar ao mundo através dos animais (porque é um amor asexuado e como tal livre de culpa, vergonha e moral). É esse o truque. E é por isso que vai continuar a enganar-me e a fazer-me procurar pela moedinha. Sempre.

sexta-feira, 19 de agosto de 2005

signs of the times

Há 3 dias que lá em casa se vê os filmes da saga Alien. É extremamente divertido ver como cada filme tem em si as marcas visuais da sua década. A mais hilariante aparece em "Aliens". Na cena mais obscura, quando a menina Weaver se arma de metralhadora e lança chamas e entra no gigeriano ninho dos bichitos, houve alguém que conseguiu incluir no décor uns néons cor de rosa. É possível ser mais anos 80??!!!

as gajas

Curioso... hoje reparei que a grande maioria dos meus livros gay favoritos foram escritos por mulheres. Não sei o que isto quer dizer, mas é capaz de querer dizer alguma coisa:

"A sombra de Foulcault" - Patricia Duncker
"O jovem persa" - Mary Renault
"Salto Mortal" - Marion Zimmer Bradley
"Cry to heaven" - Anne Rice
"Entrevista com o vampiro" - Anne Rice

terça-feira, 9 de agosto de 2005

a pobreza

Nestas férias na Madeira apercebi-me de uma coisa que sempre me tinha passado um pouco ao lado: a pobreza cultural.
Com isto não estou a falar de populações privadas de cinemas, concertos, museus, etc... mas sim de pessoas que vivem quase como burros de palas nos olhos. E não o fazem por pobreza económica, opressão social, ou seja o que for, mas sim pelo que eu entendo como pura pobreza de espírito.

Passei as férias numa pequena aldeia no meio das montanhas e dei passeios pelo campo e fiz longas viagens de autocarro e uma coisa que prendeu a minha atenção foi como cada casita tinha sempre o seu quintalinho. É uma coisa simpática, mas na Madeira, a esmagadora maioria ocupa os seus quintalinhos com uma plantação de couves. Daquelas galegas, grandes, farfalhudas e que conseguem quase crescer como palmeiras.

Porquê?!

Não consigo perceber, sinceramente. Aquela ilha é abençoada por um clima e uma terra onde se pode plantar tudo o nos passar pela telha que a coisa há-de crescer feliz e sumarenta. Então porquê plantar couves? E porque é que TODA a gente o faz? E porque é que ocupam o quintal TODO com aquilo (estou a falar de 20 a 30 couves por quintal!!!)?

Vejamos:
1- A couve é das coisas mais baratas de comprar num mercado.
2- Uma família com uma dieta equilibrada não precisa de mais de duas ou três couves no quintal.
3- Um quintal familiar não produz couve suficiente para que a sua comercialização seja rentável.
4- Se toda a gente tem couves no jardim, ninguém compra couves.

Ocorreu-me que talvez houvesse um prato típico da Madeira que levasse muita couve. Mas para além do caldo verde não me ocorreu mais nada. Será que aquela gente come caldo verde ou cozido à portuguesa todos os dias?! O mal que isso não deve fazer ao ambiente familiar... Mas é que nem nos restaurantes (naqueles a que fui) se dá bom uso á couve!

Sinceramente, não percebo. Se se tem uns bons metros quadrados atrás da casa capazes de nos abastecer a dispensa com qualquer verdura, do kiwi ao pimento, da hortelã à marijuana, porquê insistir nas couves? Só pode ser pobreza. Cultural.
E é triste, porque não se vê remédio para isto e nem sequer se pode culpar o governo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

o que e que a baiana (nao) tem?

Comprei a série "Carnivale - a feira da magia" em DVD por puro impulso consumista. Afinal 12 episódios de uma hora pela módica quantia de 25 euros pareceu-me um bom negócio. E é. A série é bastante interessante e tem uma direcção de arte irrepreensível (e um genérico lindo!). E no entanto...
...no entanto fica-se com aquela sensação de que aquilo é uma espécie de Twin Peaks mal conseguido. É que o David Lynch engana-nos muito melhor e consegue-nos por a achar que por trás de coisas gratuitamente cripticas há uma qualquer verdade profunda. Aqui é mesmo só o verniz. E é transparente.
Ainda assim, infinitamente melhor que ver qualquer dos 4 canais. (eu não tenho cabo).

...ah, e o rapazito do papel principal é um querido e está sempre suado e a lavar-se num alguidar :-)

o regresso

É duro regressar. Depois de duas semanas a olhar para o verde a ouvir os passarinhos a cidade é mesmo um assalto aos sentidos.
Como eu já previa, acabei por não escrever mais do que uma dúzia de linhas. Em compensação li uns bons milhares:

"Harry Potter and the half blood prince" - J. K. Rowling
É mais do mesmo mas continua a saber bem como sempre. Aliás, este é melhor que o anterior.

"The naked civil servant" - Quentin Crisp
Não sei porque é que não li isto antes... é GENIAL!

"Salto mortal" - Marion Zimmer Bradley
Já andava para ler isto há anos mas finalmente aconteceu. 870 páginas em dois dias. Foi como comer algodão doce.

"Thursbitch" - Alan Garner
Não percebi metade mas acho que não perdi muito. Bonito.

"Eleven on top" - Janet Evanovich
Estes também são sempre a mesma coisa mas parto-me sempre a rir. Nem ao 11º volume isto perde a graça.

"Aristoteles and the secrets of life" - Margaret Doody
Estava à espera de melhor. Um policial na grécia antiga com Aristoteles a fazer de Sherlock holmes. "O nome da rosa" cumpre melhor mas ainda assim passou-se bem o tempo.