Começou a nevar. Parei de escrever porque estava a ficar com caimbras na mão. Não me lembro de alguma vez ter escrito tanto à mão. Mas preciso disto. No momento em que fui para a janela encostar a testa ao vidro para me refrescar (estes austríacos são uns fanáticos do aquecimento central) o meu cérebro voltou ao caos dos últimos dias. É demasiado. Escrever ajuda-me a focar e sinto que as coisas que te devo dizer são coisas que eu próprio preciso saber, mesmo que sejam memórias minhas. A nossa condição de humanos é tão imperfeita… Fazer sentido das coisas não é o mesmo que recordá-las e muito menos vivê-las na pele...
Depois também estive a ver televisão, mas nem o canal porno (grátis!) me conseguiu distrair. É esta certeza de que o Jaime está em perigo que me deixa completamente desfeito. Como ele estava diferente em tua casa! Como pode uma semana mudar tanto assim uma pessoa?
Que pergunta…eu sei.
A mesma semana faz com que eu agora nem me reconheça no espelho. Esta barba, esta cicatriz.
Ele está em perigo e é por minha causa. Eu sei. Sinto-o. Porque outro motivo me esconderia tanta coisa? Se a seta com que me fez esta ferida me tivesse atingido no coração eu não duvidaria por um segundo de que foi lançada por amor. Felizmente ele tem boa pontaria... Esta ferida não é nada. O que me dói é que ele julgue que me pode proteger mantendo-me longe e ignorante do que se passa. Que pateta. Que idiota!
E como eu estou preocupado, Joana. É que ele é um bocado de mim, e não adianta que seja ele a sofrer em vez de mim. A dor é sentida pelos dois (tu viste como ele chorou por me ter ferido). E ele É meu irmão. MEU irmão!
- várias frases riscadas até se tornarem ilegíveis -
sábado, 24 de dezembro de 2005
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