Se tivesse de dar um conselho de vida a alguém, do alto da minha humilde cagança diria que uma das coisas mais proveitosas para a sanidade mental é viver um bom par de anos fora do sítio onde se nasceu.
Admito que viver em Portugal tem dias maus, mas dias maus há em toda a parte do mundo para toda a gente. Depois dos meus 4 anos de Noruega e depois dos meus 4 anos seguintes em Portugal, não me resta senão concluir que na base do que dificulta ou facilita a vida prática e diária das pessoas está o mito da identidade nacional.
Imaginemos o resultado de uma experiencia cientifica. Num novo território virgem criam-se dois países identicos.
Num coloca-se uma população convencida de que vive num país sub-desenvolvido, de que o governo é corrupto, de que nenhum esforço será recompensado. No outro convence-se a população de que são o país mais rico e socialmente justo do mundo, de que o governo é empenhado e incurruptível e que a iniciativa pessoal será sempre recompensada.
Ao fim de pouco tempo provavelmente já se terão belos clones de Portugal e da Noruega.
O que me irrita nestes "meus" dois países, o natal e o adoptivo, é o momento em que tenho de lidar com pessoas que justificam as suas (más) acções com base nestes mitos de identidade nacional.
O mundo ocidental anda desde o iluminismo a lutar para se libertar das algemas da religião. Graças a isso conseguiram-se os estados laicos que nos dão tantos privilégios e liberdades e que, aparentemente, tornam os países em que o governo está dissociado da religião mais "civilizados". Parece-me no entanto que o grande próximo desafio "civilizacional" é arranjar maneira de desinflar os egos nacionalistas e fazer as pessoas perceber que, no momento em que a tecnologia nos permite viver numa "aldeia global" é preciso começar a pensar na humanidade enquanto espécie e não enquanto conjunto de povos.
É preciso pensar assim em tão grande escala? Sim. Quando se tem de enfrentar no dia-a-dia pessoas que nos dizem na cara: "o seu trabalho é muito bom, mas isto é demasiado bonito para o público português e só vai vender se parecer barato."
Ou algo como: "É um previlégio para os turistas virem à Noruega provar umas típicas papas de aveia sem sabor, é por isso que cobramos por elas o equivalente a uma refeição magnífica num restaurante de luxo".
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Olá,
É sempre um alívio encontrar um texto que diz o que penso. Maior ainda quando diz o que sinto. É que nem sempre é fácil articular as ideias para que traduzam bem o que se quer dizer.E nem queria ter sido eu a escrevê-lo, está perfeito assim. É o caso deste post. Estou totalmente de acordo. No meu caso o país adoptivo é a Bélgica, mas isso é um detalhe. O princípio é o mesmo. Sofia:-)
P.S.: Gosto do muito de ler "O mal dos Livros".
aha! Então és tu!
Daquí outro Bi-Pátrido a concordar com este comentario.
Proponho à Asambleia da República Portuguesa proclamar uma lei que obrigue aos nacionais a sairem no mínimo 1 ano do pais natal para logo voltar com outros olhos.
Está dito!
Kardo
Luso-Venezuelano
Não disse nada até agora mas concordo plenamente, claro.
Nuno, Luso-francês.
Enviar um comentário