terça-feira, 14 de março de 2006

antes de adormecer

D - Achas que a alma precisa do corpo para existir?

B - Não necessáriamente.

D - Mas se a alma anima o corpo e se o corpo é a morada da alma, será que a alma pode continuar a pensar e a ter memória quando o cérebro já não existe?

B - Talvez, lembras-te daqueles computadores que não tinham memória ROM e funcionavam só com duas disquetes?

D - Sim, e os ZX Spectrum, com uma cassete.

B - Talvez a alma seja só energia, electrões e coisas dessas aos pulos que depois quando o cérebro deixa de funcionar, vão continuando a pular pelo universo fora e a identidade é o padrão dos pulos dos electrões.

D - É isso que achas que vai acontecer connosco quando morrermos?

B - Não, eu acho que nos vamos transformar em duas cabecinhas com asas que continuam a tagarelar no limbo.

D - Mas imagina que morrias, o teu coração parava e orgãos deixavam todos de funcionar, ou seja, a tal energia deixava de ser produzida. Será que se depois, artificialmente, enviasses energia ao corpo para pôr tudo a funcionar outra vez, será que o teu cérebro ainda produzia a mesma identidade?

B - Uma coisa género Frankenstein?

D - Sim, mas com um corpo inteiro em vez de bocadinhos agrafados.

B - Mas isso tinha de ser logo a seguir à morte, antes que o corpo se deteriorasse...

D - Imagina que morrias, género tinhas um ataque cardíaco e caias para o lado. Eras congelado e passado dois anos vinham uns cientistas com um raio que te descongelava e punha o corpo a funcionar outra vez. Achas que era a mesma pessoa que tinha morrido que voltava?

B - Isso havia de ser tétrico. E se eu voltasse a falar chinês? Era a mesma pessoa mas falava chinês?

D - E mandavam uns médicos e psicólogos perguntar-te se te lembravas quem eras.

B - Provavelmente tinha umas histórias de túneis de luz para contar. Ah, e tinha uma mensagem do Além para a humanidade!

D - O que é que dizias?

B - Se calhar qualquer coisa como: "A Virgem Maria mandou dizer que é para lhe construirem uma capelinha ali!" e apontava para trás deles e quando eles se virassem eu batia as botas outra vez e havia uma grande discussão para decidir o sitio certo para onde eu tinha apontado.

D- Sim! E depois eles perguntavam-me se eu queria que eles te reanimassem outra vez e eu dizia-lhes: "Obrigado, mas acho que não vale a pena."

2 comentários:

João M disse...

eu acho que depois de morrermos sentimos o mesmo que antes de nascer. é a minha teoria.

Anónimo disse...

Muito bom.. tomei liberdade de adicionar este blog ao meu. Saudações