domingo, 30 de abril de 2006

os reis reinaram

Foi muito bonito o concerto dos Kings of Convenience ontem à noite na Aula Magna.
Se nós portugueses temos a patente mundial para a "saudade" então os noruegueses têm a patente do "Kos" (verbo: å kose; adjectivo: koselig)
Kos é algo aconchegante, que nos faz sentir bem, felizes, protegidos. É saber que o mundo é mau, agreste e cruel mas que as pessoas podem criar para si mesmas momentos de calma, descontração e felicidade. Os noruegueses são peritos nisso e o concerto de ontem à noite foi prova disso. Foi muito koselig.
Começou com os dois rapazitos a cantar com as suas guitarrinhas como se estivessem na sala lá de casa e acabou com o público a dançar no palco. Pelo meio trocaram-se declarações de amor e eles provaram como se podem fazer revoluções pacíficas e que não é preciso fazer muito barulho para se exprimir a alegria. Basta estalar os dedos e cantarolar uma canção, mesmo quando não se sabe a letra.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

gudbrandsdalsost

Ó alegria!
Chegou um quilo disto lá a casa.



"Isto" é o famoso queijo castanho da noruega, vulgo "brunost", ou, mais exactamente, "gudbrandsdalsost" (em tradução literal: queijo do vale do fogo de deus). Quem nunca o provou pode tomar nota na rubrica "coisas para fazer antes de morrer".

Mirrormask

Lá fui ao IndieLisboa ver o "Mirrormask" do Dave McKean e Neil Gaiman.

Começou por ser giro ver que a audiência era quase toda composta por pessoal da faculdade de Belas Artes. Senti-me um bocadito velho ao pensar que foi há exactamente 10 anos que saí de lá.

Quanto ao filme, a sensação foi um bocado parecida. É um filme datado. Embora tenha saído o ano passado teria tido muito mais impacto há 10 anos quando o Dave McKean era o rei do mundo da ilustração. Mas é claro, estas coisas levam muito tempo a fazer.

No geral, o filme é bom. Bastante melhor do que eu esperava.Há uma enorme consistência entre a história e o universo visual mas isso é porque o Dave e o Neil são almas gémeas que se auto-estimulam para terem orgasmos sincronizados.
O único problema da coisa é a música, com um saxofone armado em étnico ajudado por umas tablas armadas em jazzy cool que saltaram directamente de 1992 e tentam puxar o filme para o infantil quando é mais que sabido que as crianças que gostam de Dave McKean têm todas mais de 16 anos.

É curioso ver como há coisas que são tão o seu tempo e como o tempo dura cada vez menos. Este filme teria sido genial há 10 anos, mas chegou tarde. De qualquer maneira, ainda bem que chegou. São 2 horas visualmente inspiradas e inspiradoras. Daqui a uns 10 ou 20 anos, quando os anos 90 já estiverem com as fronteiras cronológicas mais diluídas, este filme provavelmente vai ser uma referencia incontornável e já deve ser possível disfrutar dele sem este saborzinho decepcionante de coisa fresca com prazo de validade expirado.

terça-feira, 25 de abril de 2006

cliche x2

Má sorte é apanhar com o mesmo cliché 2 dias de seguida:

"Le temps qui reste" de François Ozon (filme chato e previsível mas com uma boa representação de Melvil Poupaud (que me pareceu um tipo simpático a julgar pelas palavritas que (timidamente) troquei com ele no átrio do Forum Lisboa)
e
Episódio 2 da série 3 de "Nip/Tuck" (série que varia imprevisivelmente entre o bom e o muito mau)

Em ambos, um rapazito insatisfeito com a sua vida rapa o cabelo frente ao espelho da casa de banho.

No filme, o rapazito está na fase terminal do cancro e eu interpretei a cena como sendo demonstração da sua aceitação da morte. Algo como: tosquio-me porque sou um carneirinho que se auto-sacrifica.

Na série, o rapazito acabou de descobrir que durante 20 episódios namorou uma mulher que afinal era um homem e depois para se sentir mais macho foi procurar um travesti, deu-lhe porrada e foi para casa e rapou o cabelo.

O que achei irritante em ambas as cenas foi o seu uso descartável, limitando-se a explorar o factor choque da auto-imolação (que nem é assim tão grande porque a mesma cena já foi usada tantas vezes em tanta coisa).

É que na vida real, deprimente à séria é quando um tipo doente que vive sózinho, depois de lhe ter passado a nóia de rapar o cabelo frente ao espelho do lavatório, percebe que tem de limpar a porcaria que fez. É que aquelas máquinas mandam cabelinhos para todo o lado!!!

Já o outro da série, a mesma coisa. Demonstração de rebeldia era o pai dizer-lhe "limpa já essa porcaria que fizeste no lavatório" e ele responder "Não limpo nada, e quem és tu para me dares ordens?!". Não admira que seja um puto problemático, com pais que deixam para as empregadas domésticas cubanas (a série passa-se em Miami) a resolução dos verdadeiros problemas do dia a dia.

Só me lembro duas vezes em que esta cena da tosquia me tocou devidamente. Foi nos filmes "joana d'arc" de Carl Dryer e no "Alien 3" (onde, mesmo sendo uma referência oblíqua ao primeiro, ainda assim fazia sentido)

Entretanto, dado o avanço assustador das minhas entradas que já não permitem passar um mês sem cortar o cabelo, estou a considerar comprar um maquineta destas. Vou é usá-la na banheira com a cortina fechada e às terças de manhã, que não sou parvo. (A minha empregada doméstica ucraniana vem às terças.)

sexta-feira, 21 de abril de 2006

cliche

Ontem a propósito do filme "Me and You and everyone we know" (muito recomendável, diga-se de passagem) lembrei-me de um pequeno momento da minha vida, de um dia em que me levantei cedíssimo em casa dos meus pais para apanhar um comboio. Enquanto comia o pequeno almoço, o sol levantava-se e pela janela da cozinha entrava uma bonita luz dourada. Nisto, lá fora, um passarinho vem pousar nas roseiras em flor da minha mãe e põe-se a pipilar muito feliz.
Foi a primeira e única vez que assisti a uma cena imortalizada em vários padrões de cortinados, serviços de chá e leques chineses. Ou seja, era um cliché da pirosada ao vivo e a cores.
Serviu esse momento para eu perceber como a representação artistica da realidade pode conspurcar a nossa percepção dessa mesma realidade. Porque, embora eu estivesse consciente da profunda e comovente beleza do passarinho cantor pousado na roseira estava também consciente de que toda uma cultura visual da humanidade me tinha condicionado para achar aquilo uma grande e ridícula pirosada.
Suponho que seja esse um dos grandes males da sociedade moderna, o facto de não se conseguir ter um experiência pura da realidade. Tudo nos chega revisto, reciclado, representado e eu tenho a impressão de que é preciso mais inocência para se enfrentar o mundo e viver como deve ser, caso contrário passa-se a vida prisioneiro do cinismo e da ironia.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Divida de Imaginario

Esta noite sonhei com uma planície e, quando acordei, tentei lembrar-me de onde é que aquela paisagem me era familiar. Só depois de espremer muito o cérebro é que me lembrei que era uma paisagem imaginada por mim num livro dos cinco, mais exactamente, "Os cinco e o comboio fantasma".

Fiquei um bocadito na cama a apreciar o quentinho do édredon, o quentinho do namorado e a desabitual falta de pressa de ir trabalhar e pensei na Enid Blyton. É sem dúvida a escritora de quem li mais livros. Vejamos:

Colecção Os cinco: 21 volumes
Colecção Os sete: 15 (?) volumes
Colecção Mistério: 17 (?) volumes
Colecção A aventura: 7 (?) volumes
Colecção O segredo: 7(?) volumes
Colecção O Mistério (esta é aquela em que um dos meninos tinha uma macaca chamada Miranda): 5 (?) volumes
Colecção o Colégio de Santa Clara: 6 volumes
Colecção o Colégio das 4 torres: 6 volumes
Mais alguns títulos avulso.
Mais os livros do Nodi.

Dá à volta de 70 livros, mais coisa menos coisa. Isto os que eu li.
Acho que devo muito à senhora Enid Blyton. Devia-me lembrar mais vezes dela.
De qualquer maneira, tem o meu respeito e veneração eterna.

PS: Depois de escrever isto fiz o meu Enid Blyton top 5

1- A aventura no Circo
2- O segredo das grutas de Spiggy
3- Os cinco e a Ciganita
4- O segredo do Castelo de Lua
5- O mistério da torre assombrada

...e olhando para este top cinco facilmente concluo que o que me fascina são livros com castelos e/ou passagens secretas. Hummm.....

segunda-feira, 17 de abril de 2006

De volta a vida

Hoje acordei e parecia que era eu de novo.
Durante a manhã até ouvi música
Durante a tarde até me apercebi que vai haver um concerto dos Piano Magic no Santiago Alquimista dia 28 de Abril.
O mundo desabrocha novamente à minha volta e já não estou imerso em formatação de textos.
Outro dia um amigo meu disse-me que estava feliz por já não ser designer. Eu percebi-o perfeitamente.