Os sinos das igrejas de Lisboa tocaram no dia 1 de Novembro pelas vítimas do terramoto de 1755. A missa das 6 encheu (a minha vizinha queixava-se ao marido que já só tinha encontrado lugar num banco lateral atrás duma coluna). Mas aposto que ninguém rezou pelas vítimas do auto-de-fé que a Inquisição fez logo de seguida, aproveitando a oportunidade para assar uns sodomitas, umas bruxas e uns judeus. Disso já ninguém (convenientemente) se lembra.
Nos nosso tempos modernos e civilizados, em que se desculpa os procedimentos da Inquisição e da Igreja Católica com o peso da história, pode parecer uma coisa bárbara, sacrificar humanos para apaziguar a ira divina. Mas a verdade é que ainda hoje os bodes expiatórios são os mesmos, a diferença é que não se assam na praça pública. Experimentem procurar no google por "blame homosexuals hurricane New Orleans": dá qualquer coisa como 268.000 resultados!
Escapa-me verdadeiramente à compreensão como é que alguém é capaz de acreditar num deus que, por se irritar com a intimidade sexual de uma minoria, mata e chateia a grande maioria. Ou deveremos acreditar que todas as vítimas de catástrofes naturais são sodomitas? E que os autos-de-fé eram uma maneira de ajudar deus no seu trabalho mal acabado?
quinta-feira, 3 de novembro de 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
É um chavão o que vou dizer, mas a ignorância é a mãe destas e de outras barbaridades. E o mais chocante é quando essa ignorância (i) vem de gente inteligente e com responsabilidade social/cultural e/ou (ii) é tornada "verdade absoluta e incontestável" com recurso a dados científicos ou a argumentações que ao princípio até parecem lógicas.
Se há coisa que me deixa triste é ver gente inteligente enrodilhada em preconceitos, ideias feitas, generalizações, etc. E ao longo da história várias foram as figuras - incluindo figuras de um certo nível intelectual - que cairam neste tipo de cegueira.
É pena, mas o ser humano mete dó...
Enviar um comentário