Ao fim do terceiro dia de indie, ainda com pouca coisa vista, posso opinar que:
O filme de abertura, LIFE IN LOOPS, desiludiu-me bastante, talvez porque estava à espera de algo cinematograficamente mais radical. Mas afinal o realizador deixa-se levar pela força emotiva e narrativa das imagens originais de Michael Glawogger e mostra-se incapaz de as "quebrar" para as transformar em algo novo e seu.
a Sessão 1 de curtas metragens do Observatório foi bastante equilibrada na qualidade. Destaque para o delicioso "The saddest boy in the world" e para a perturbação psicológica de "Five more minutes" (dêm dinheiro a estas realizadoras para comprarem um bom equipamento de captação sonora, sff!)
V.O., de William E. Jones foi uma boa surpresa. O filme mistura imagens de filmes porno gay pré 1985 com diálogos de clássicos do cinema e suponho que só pode ser completamente apreciado se se perceber um pouco do submundo da pornografia gay e da história do cinema. Mas ver um tipo saído de um desenho do Tom of Finland, a fazer as malas (com as suas camisas de flanela e poppers) para deixar o seu amante ao som de um monologo tirado de "Amor de Perdição" de Manoel de Oliveira é hilariante, comovente e imperdível. Claro que em vez de uma hora de filme, 30 minutos teriam sido mais que suficientes para um exercício sem dúvida interessante mas com resultados de qualidade muito flutuante.
Angel, de François Ozon foi ao mesmo tempo uma divertida surpresa e uma previsível decepção. É uma pomposa e delicodoce adaptação de um romance escrito por Elisabeth Taylor (não a actriz!) e a sua grande ironia consiste em não ser irónico.
É talvez o equivalente cinematográfico às estátuas de porcelana de Jeff Koons. É raro ver coisas más tão bem feitas.
A maioria dos artistas fascinados pelo kitsch prefere recorrer a um distanciamento cool e fazer uso de material ready-made. Mas quando mergulham na fonte tão decididamente e, a partir do barro primordial da fuleirice, usam as suas talentosas mãos para criar um virtuoso mas absolutamente inútil bibelot biscuit... é assustador!
O filme atira-nos à cara o "feminino" no que pode ter de mais castrador e é capaz de provocar ataques de misoginia ao espectador incauto. Fica-se indeciso se o filme é de romance ou de terror. Um filme destes vindo de outra pessoa que não Ozon seria sem hesitação classificado como "uma grande bosta cor de rosa". Mas o "bom nome" do senhor Ozon leva-nos a pensar que se calhar isto é uma das obras de arte mais brilhantemente fechadas dentro do seu próprio universo, como uma pescadinha (de porcelana) que se comesse a si mesma pelo rabo (enquanto caga em cor-de-rosa).
domingo, 22 de abril de 2007
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