quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Uma vida real

Conheci o meu amigo R. há 7 anos no chat room de um site gay. Na altura ele tinha 50 anos e preparava-se para ganhar coragem e contar à mulher e filhos que era homossexual. Foi difícil. Seguiu-se o divórcio e tempos difíceis em que ele tentava explicar aos 2 filhos, uma rapariga de 17 e um rapaz de 23, já casado e com filhos, o que se passava e porque é que tinha tomado tal decisão naquele momento da sua vida. A rapariga acabou por aceitar, o rapaz cortou relações com o pai.

Entretanto o R. conheceu o T. e começaram uma relação que durou 3 anos. Passaram a viver juntos e de cada vez que eu encontrava o R. online ele contava-me com alegria deslumbrada a descoberta de uma vida sexual e afectiva que nunca julgara possível. Aos 52 anos descobria que gostava de piercings, cabedal negro e tatuagens. Investiu nos 3. E inscreveu-se com o namorado num ginásio.

Finalmente, o tímido bancário era feliz e ia-me enviando fotos do namorado, do piercing no mamilo, da tatuagem no ombro e dos músculos que surgiam do nada.

Depois, de repente, durante quase um ano o R. sumiu-se da net e o seu nome deixou de aparecer no meu messenger. Quando voltou fiquei a saber que o seu filho se tinha suicidado porque não conseguia viver sabendo que tinha um pai homossexual (deixou isso escrito na nota de suicídio). Isso levou a que o R. mergulhasse numa depressão que acabou por minar a relaçao que tinha com o T. Agora são só amigos.

O R. já não é o mesmo. Vive sózinho e cada vez que troco algumas palavras com ele, onde antes achava uma alegria contagiante, passou a haver uma grande grande escuridão.

Hoje, enviou-me uma foto da sua tatuagem mais recente. É a foto do filho com as datas de nascimento e morte. Tatuou-a no braço. Depois disse-me "Agora já posso ter o meu filho comigo para sempre".
E eu fiquei sem palavras durante vários minutos.

6 comentários:

Anónimo disse...

História muito forte... Obrigado por a teres partilhado...

intruso disse...

sem palavras tb eu.....

Tokitoka disse...

«And if there's a heaven and God I hope there is, I know he's sitting up there, drunk as a fucking monkey and smoking shit.Because he left his pains down here.»

Deixa de Rhah, personagem do Platoon.

Anónimo disse...

opinião pessoal: :| .

opinião profissional: o suicídio é o resultado de um processo patológico multifactorial...ainda que uma das "razões" tenha sido escrita, haveria certamente outras. não muda em nada a história trágica e profissionalmente deixa-me também um pouco :| .

Anónimo disse...

Esta história tem tantas histórias, meu amigo, quase todas tristes, é certo. Quase poderia chamá-la, de uma forma algo "absurda" ,DIFERENÇA DE GERAÇÕES...
Obrigado por me ter dado conhecimento dela.

O meu umbigo disse...

Sem palavras ... fica um silencio vazio ... sente-se um aperto no coração ... um arrepio ... mas fico sem conseguir passar para palavras este sentimento ...

gostaria que entrasses em contacto comigo

filipe.valter@gmail.com