segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Vizinhos

É um casal de velhotes, na recta final dos sessenta.

Ela passa o dia na lida da casa e a tomar conta do netinho. É das beiras e tem uma voz que não precisaria das janelas abertas para me entrar em casa como entra. Está sempre a queixar-se do preço das coisas, a ralhar com o marido que lhe suja o chão da casa e a chamar o nétinho para ir comer o "Ióiurte".
Quase todos os dias faz uma panela de arroz, ou embebe os restos do pão em banha e vem deitar isso na rua, frente à minha porta para dar de comer ao pombos, os "coitadinhos", como ela lhes chama.

Ele passa o dia debruçado dmuro do quintal a rezar em voz baixa. Costuma por o rádio em altos berros quando dá missa. Só sabe falar alto e há sempre um palavrão no meio da frase- É normalmente a única palavra que se percebe.
Quando os turistas incautos lhe perguntam o caminho para o castelo ou para a Sé fica muito excitado e repete as mesmas direcções confusas vinte vezes. Quando não há ninguém na rua atira pedras aos pombos que comem a porcaria que a mulher dele lhes serve.

1 comentário:

Lis disse...

Gostei. Retratos de um quotidiano que muitos nem vêem...tu vês e és capaz de transcrever. Parabéns.