segunda-feira, 28 de agosto de 2006

gajos vs gajas



É curioso como há coisas das quais gostamos e nem conseguimos perceber bem porquê. Por exemplo, eu e a série Entourage.

Entourage é um termo que anda próximo de “comitiva”. Neste caso é uma série sobre um jovem actor em hollywood e a sua “comitiva”, ou mais exactamente os “colas” que vivem à custa da fama alheia.

Neste momento vejo a terceira temporada e, depois de quase 30 episódios, nem o enredo avançou grande coisa, nem as personagens se aprofundaram minimamente. E no entanto continua a fascinar-me.

O mais notável nesta série é provavelmente o facto de ser o exacto oposto de “O sexo e a cidade”. Como se a HBO tivesse resolvido exorcizar essa falecida série fazendo outra que, para compensar, coçasse a outra nádega.

Vejamos: uma é sobre quatro mulheres em Nova York, a outra sobre quatro homens em Los Angeles.

Em “O sexo e cidade”, as mulheres preocupam-se com a construção da sua carreira, o seu futuro sentimental e tentam achar o sentido da vida.
Em “Entourage” os homens são irresponsáveis profissionalmente, só se preocupam em arranjar uma queca para o próprio dia (mas se virem umas boas mamas ou uns belos rabos, também chega) e vivem sem se lembrar que o amanhã existe.

Elas deliram com vestidos, malas e sapatos.
Eles deliram com carros, relógios e jogos de vídeo.

Elas tentam sempre ter um comportamento adulto.
Eles têm sempre um comportamento infantil.

Elas falam da vida e das relações como se houvesse um final redentor, uma “moral” capaz de dirigir as acções humanas com sentido.
Eles falam de tudo para evitar falar de qualquer coisa em específico e nada se leva a sério.

Provavelmente o que me atrai nesta série é a profunda compreensão do universo masculino. É isso que me fica no final de cada irrelevante e inconsequente episódio. É extremamente refrescante ver uma série que não pretende achar o sentido da vida no final de cada episódio, onde nenhum ciclo se fecha, onde as coisas seguem totalmente à deriva sem que ninguém pare para se preocupar. Onde ninguém tenta sequer ser politicamente correcto porque ninguém sequer tem a noção do que é ser político (veja-se a escabrosa e despreocupada misoginia).

Como disse, depois de quase 30 episódios, nem o enredo desta série avançou nalguma direcção, nem as personagens ganharam a mínima profundidade. E eu não me sinto minimamente defraudado. Pelo contrário, é uma delícia. É como comer algodão doce, não alimenta nada, mas sabe bem. E faz bem a um ego masculino (mesmo se gay!)

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