Há quase três anos que abri a minha pequenita empresa de design e fiz o voto de trabalhar apenas com clientes da área da cultura. Curiosamente, a coisa tem corrido melhor do que o esperado. Aparecem clientes e o trabalho é interessante.
O problema em trabalhar para clientes destes é que os honorários são necessáriamente baixos. Para além de ter de oferecer à partida preços baixos para não assustar os potenciais clientes, tenho também de regatear cada tostão. ( Uma das minha anedotas de antologia é a da embaixada que me telefona a perguntar o preço para um cartaz e quando eu lhes dou um preço eles respondem: "Mas não pode fazer um desconto? Nós somos um país pobre!!" )
Mas o que é mesmo grave, são os atrasos nos pagamentos. Poucos são os que pagam nos prazos acordados e para ver um pagamento tive sempre de telefonar antes. Os atrasos variam entre os dois meses, os seis meses e um ano (!!!!)
Na teoria, olhando para a facturação/despesas, o negócio vai bem. Na prática, olhando para o saldo bancário, vai sempre mal.
As desculpas para o não pagamento atempado de facturas são lindas. Eis uma pequena antologia:
- o subsidio do governo ainda não chegou.
- a contabilista está de férias/doente.
- a pessoa que trata disso foi tomar café e eu não sei de nada
- o senhor director ainda não assinou os cheques deste mês
- só atendemos às quintas à tarde.
- só lhe sei dizer a data do pagamento para a semana
- o nosso plano de pagamentos está atrasado alguns meses e tenho outros clientes à sua frente
- não temos dinheiro (prémio honestidade desarmante!)
Mas de facto, a única conclusão a que se pode chegar é precisamente essa: Ninguém tem dinheiro! Dá a sensação de que, seja qual for o negócio, está toda a gente a correr sobre o vazio, numa espiral descendente onde o dinheiro que entra vai apenas para tapar os buracos das dívidas.
Teoricamente, parece que a situação economica de Portugal tem safa. Eu, sinceramente, não acredito em teorias. Prefiro acreditar em pronto pagamento.
sexta-feira, 15 de julho de 2005
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