domingo, 28 de outubro de 2007

Trovador

Ontem fui ao concerto do Mark Kozelek no Santiago Alquimista.
O homem entra em palco com um ar de Ogre que consegue sempre comprar roupa em saldo (sobram sempre camisas XL e sapatos 47). Pega na guitarra e insulta a banda que tocou antes por lhe ter estragado o som. Ri-se do mau inglês do publico. Prolonga as canções por eternidades que desafiam o bocejo do fã mais ferrenho ou acaba-as como quem ouviu o telefone a tocar e corre a atender.
E no entanto... uma platéia inteira rendida à magia antiga do trovador que vem à cidade contar histórias dos sítios por onde passou, das raparigas que amou e não o amaram, dos sonhos que teve e nunca se realizaram. Aquela voz de adolescente ferido e mal acordado, a guitarra dedilhada em malhas repetitivas e hipnotizantes.
Como disse o próprio Mark, são só canções e são quase todas iguais.
Pois sim, mas são todas lindas, digo eu.

sábado, 27 de outubro de 2007

Comoção

O verdadeiro Skråmestø comprou um iPod Touch. Desde que vi uma televisão a cores (com um desenho animado do tom e jerry) que não tinha esta sensação de que a tecnologia é uma coisa formidável. Maravilhas destas reforçam a minha fé na raça humana.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Exponenciar

Genial, genial! Ontem à noite descobri o clássico filme do Jean Genet "Un Chant d'Amour" com a banda sonora composta por Simon Fisher Turner em 2001. As imagens já eram magníficas, mas com esta música.... pele de galinha!!! Vejam este pequeno excerto a encher o écran e com o som bem alto nos auscultadores.
PS - o filme completo pode ser visto aqui

Saldo Positivo

Acaba já na quinta-feira a minha exposição no bar O Bico, na Rua de Santa Catarina, em Lisboa.

Três quadros vendidos até ao momento, o que, em termos muito prosaicos de rendimento monetário, é quase o mesmo que publicar um livro... Tenho de repensar a carreira, agora que descobri que uma imagem vale mais que mil palavras, literalmente :-D

domingo, 21 de outubro de 2007

Afinal ele era gay

J.K. Rowling lembrou-se de contar essa ontem: Sim, Dumbledore era gay.
Não é exactamente uma grande novidade porque quem já leu o último livro do Harry Potter percebeu a coisa nas entrelinhas: o mestre da escola de magia de Hogwartz teve um amor adolescente com um rapazito louro e bem parecido.
Mas uma coisa é ler o livro, onde essa história vem insinuada por uma personagem maldosa, e outra coisa é a autora dizê-lo às criancinhas. Grande senhora!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Portugal video pop - youtube surfing

Ontem, ao ver o DVD "A life in Pop", Documentário/ entrevista sobre a carreira dos Pet Shop Boys, descobri nos extras um video (lindíssimo) filmado no Parque das Nações, expo 98

Isso lembrou-me deste video dos The Christians, filmado em Lisboa, e com muitas imagens dos arredores da Faculdade das Belas Artes (onde estudei) e outras de sítios perto de onde moro. É giro ver como era em 89, o que mudou (uma das casa entaipadas foi toda recuperada e tenho um amigo que mora lá) e o que está na mesma (pátio Dom Fradique, capital lisboeta da ratazana).

E, por associação, lembrei-me também do Alentejo/Algarve dos Depeche Mode (foi o primeiro chaparro pop?)

E da Tróia dos Roxette (este podem ver sem som!)

domingo, 14 de outubro de 2007

Ainda a Doris

Depois de vários dias a ler jornais e blogs de literatura é fácil concluir que quase ninguém em Portugal leu Doris Lessing e quem leu limitou-se aos seus primeiros livros, os tais que lhe valeram o carimbo de "feminista" ou o da "experiência de Africa" de que nunca mais se conseguiu safar. Os mais "esclarecidos" lembram-se de referir que "a autora também tem umas coisas de ficção científica".

Ora aqui está a melhor justificação para que se atribua um Prémio Nobel a alguém: fazer com que o autor seja lido.

Doris Lessing é uma autora que importa conhecer pelo seu pensamento lúcido e claro, pela sua visão global da humanidade, da sociedade e da importância politica do indivíduo.
Pessoalmente, agradam-me mais os seus ensaios e prefácios. A sua autobiografia é um marco incontornável na sua obra. E depois há os romances...
Os romances de Doris Lessing são ossos duros de roer. Não pela erudição linguística (bitola snobe de muita intelectuália), mas pelas temáticas. Pela ousadia com que se lança a mostrar-nos momentos e situações da condição humana a que preferiríamos voltar a cara.

Como por exemplo em "Diário de uma boa vizinha", em que uma jornalista de uma revista feminina resolve prestar ajuda a uma vizinha octagenária e acaba por ver a sua vida "perfeita" contaminada por escabrosa pobreza, injustiça social e a decadência do corpo pela doença e idade. É um dos livros mais dolorosos de se ler porque nos esfrega na cara as diferenças de classe e de idade e denuncia absurdos e injustiças sociais para os quais é difícil arranjar respostas e soluções.

Como por exemplo os relatórios em "Shikasta" em que nos são dados, em mini-contos, vários perfis de terroristas e de loucos. A enumeração lógica de causas e motivos que levam as pessoas a perder o contacto com a realidade e a ganhar ódio ao mundo.

Como por exemplo a exploração da inocência, do amor e da devoção para fins de ódio e destruição que a trama de "A boa terrorista" nos explica, numa sucessão de injustiças que, de tão verosímeis, nos cavam um buraco na alma.

Por enquanto, em Portugal podemos contar apenas com traduções de algumas das suas obras dos anos 70 e 80. Decerto que agora muito mais virá. Ainda bem. Mas, para quem ainda não contactou com esta escritora, basta ler o prefácio ao livro "O caderno dourado" para perceber a relevância deste Nobel.

E eu nem devia precisar de dizer que a série "Canopus em Argos" é uma obra de génio, peça incontronável da literatura da segunda metade do séc. XX. Infelizmente, é preciso dizê-lo. Ainda bem que a academia sueca também o diz.

Ok senhores do Nobel, agora posso esperar que se lembrem do Gene Wolfe?

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Doris e os paparazzi - "Oh, Christ!"


Já uma pessoa não pode ir comprar umas cebolas e uma alcachofra sem ganhar o Prémio Nobel...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Viva la Doris!


Fico bastante contente por uma das minhas autoras favoritas ganhar o prémio Nobel da Literatura. Principalmente por ser a Doris Lessing. É tão merecido! (não pelo dinheiro, mas pela divulgação da obra dela que o prémio implica)
Só pela série Canopus em Argos seria merecido, mas vejo o prémio como o reconhecer de um pensamento lúcido capaz de iluminar mentes através da literatura (ficcional ou não).

Pergunta de ignorante: É ela o primeiro Prémio Nobel que tem livros de ficção científica no CV?

Leitura imprescindivel - Série Canopus em Argos composta pelos 5 volumes:
-Shikasta
-Os casamentos entre as zonas três, quatro e cinco
-As experiencias sirianas
-A formação do representante do planeta 8
-Agentes sentimentais no império Volyen
(os volumes 2 e 4 foram adaptados para óperas compostas pelo Phillip Glass)

Espero que a Europa América aproveite a boleia do Nobel para reeditar esta serie (com umas capas decentes!).

A Livros do Brasil também tem alguns livros dela! Pode ser que ainda lucre e me divirta com este Nobel :-D

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Kafka, Steinbeck e Huxley



É sempre tão giro ver o meu trabalho nos expositores! Estou especialmente satisfeito com a capa do Kafka.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Vendido!


Hoje estou contente, vendi um quadro. Melhor ainda quando sei que fica em boas mãos.

PS - Afinal não passei à fase seguinte do concurso Rotschild. Ainda vais a tempo, Carlitos!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

a barrinha azul da censura


O novo disco da Joni Mitchell (bastante bom, por acaso) é vendido com uma larga barra azul. É uma pena porque esconde uma serie de rabos bem feitos. Este sim, valia a pena comprar em vinyl!
Contra a censura disparatada, eis a imagem:




Exorcismo do homem com a criança nos olhos

Há dois dias que andava com esta canção na cabeça. Tive de a exorcizar ouvindo-a umas 3 vezes de seguida e pesquisando o video no youtube.

Nunca tinha visto isto. Com tão poucos elementos visuais consegue sintetizar quase toda a iconografia de uma época. Só aquelas cores tornam qualquer um gay (acho que o Figo nunca viu este video, infelizmente). E é extraordinário como ainda há qualquer coisa na Kate Bush que nunca a deixa cair no ridículo mesmo que ela dance audaciosamente à beira do precipício. Provavelmente a franqueza com que ela enfrenta a câmara e olha para nós.
Depois, a curiosidade de ver outro video do tempo em que, para mim, televisão ainda era só a Rua Sésamo. Mais uma vez o choque daqueles olhos apontados a nós com mais violência que as metralhadoras.

E as árvores deste "Army Dreamers", lembraram-me as árvores desse outro video que já me apanhou em cheio na adolescência e tornou a Kate Bush icónica para mim:

Ok, este video do "The Sensual World" vai para a mesma categoria que o "Let me know" da Roisín Murphy. Etiqueta: "Mulheres estupendas em fatos e danças divinamente ridículas". Mas eu percebo a Kate tão bem... Quem é que não gostaria de andar vestido de princesa abanando os ombos na floresta? (hummm...talvez o Durão Barroso)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

correio dos leitores 2

Cara Sónia

Obrigado pela resposta simpatica ao meu mail impulsivo.
Conhecendo bem os guias e as revistas TimeOut sei o desfazamento entre a mensagem que a campanha passa e os vossos conteúdos (aliás, parabéns pelo primeiro número que estava bastante bom).
Não se trata exactamente de não aceitar uma piada, é mais a questão de que as piadas devem ter o timing e a audiência certa. Há uma responsabilidade cívica quando se colocam imagens na rua e se comunica com a população.
Eu nem sequer sou um activista de direitos LGBT. O que me entristeceu na campanha foi ver um produto e uma marca que gosto e respeito, associada a piadas "fáceis" que funcionam pelo lado negativo da opressão, escárnio e preconceito, promovendo e prepetuando intolerância.
Além disso, nem o payoff é correcto: vocês têm criticas de DVD e Livros e programação de televisão, actividades que eu faço em casa. Aliás, a vossa revista leio-a e guardo-a na casa de banho com a melhor das intenções :-) Isso é verdadeiramente deixar a TimeOut entrar no cerne do lar.

Abraço para vocês e puxão de orelhas à vossa agencia de publicidade e a quem aprovou a campanha.
Atentamente,
Daniel

Resposta

Hoje recebi esta resposta da Time Out:

Caro Daniel,
Postas as coisas tal como as põe… somos obrigados a dar-lhe razão. Mas, depois de muito nos pôr a reflectir, também pensámos que aquele casal não é gay… aquele casal está vestido e pintado de uma forma exagerada (ridícula?) e que, por isso, também não pretende ser um espelho dos gays, que são pessoas como as outras, e não gente que se pinta daquele modo ou que veste combinações. Mas, sim, não temos nada contra homens que se maquilham ou que vestem o que lhes dá na gana! E, sim, a leitura pode ser essa. E não é bom que seja. E não era essa a intenção. Que diabo, se há gente que luta contra o preconceito somos nós, acredite!

Posto isto, dizer-lhe que nos deixou a pensar. E abriu a discussão na redacção. Houve quem dissesse que “há sempre quem não tenha sentido de humor, há sempre quem recrimine uma piada feita aos judeus por causa do holocausto, uma piada feita aos deficientes porque é de mau gosto, uma piada feita aos gays porque são minorias sempre discriminadas”. Mas também houve quem levantasse a voz para dizer que sim, juntar um homem que faz sexo com animais e um serial killer com a outra fotografia pode ter uma má leitura.

Daniel, o que lhe posso dizer? Pedir-lhe desculpa, em nome da agência que fez a campanha. Que terá pensado no efeito “forte” que aquelas imagens iriam provocar e não terá querido, certamente, ferir susceptibilidades.

Peço desculpa se ferimos a sua. E agradecemos a sua reflexão. E sim, ajudou-nos a acordar.

Aceite um abraço,
Sónia Morais Santos
Editora Executiva

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Correio dos leitores

Hoje enviei o seguinte email:

Cara Time Out de Lisboa.
Fiquei contente de saber que Lisboa ia ter uma revista Time Out. Há muitos anos que compro os guias Time Out, especialmente porque sendo gay, interessa-me essa secção dos guias de viagem e os da Time Out são sempre bastante completos e descomplexados.
Fiquei por isso um pouco surpreendido com a vossa campanha, que mostra um homem que faz sexo com animais, um assassino psicopata e um casal gay com o slogan ‘O que fazes dentro de casa é contigo, o que fazes fora de casa é com a Time Out'. Que leitura é suposto que se faça disso? Que homens que gostam de dormir juntos ou de pôr maquiagem na cara devem ficar em casa? Devem ter vergonha de sair à rua?
Mesmo que a campanha só tivesse a ovelha e o assassino seria um bocado infeliz. Juntar o casal gay à sordidez só agrava a coisa porque demonstra que não é uma campanha bem pensada e se baseia apenas no choque e piada fácil.
Não peçam às pessoas para acordar. Acordem vocês também.
Atentamente,
Daniel