Ontem fui apanhado no meio de uma reunião para onde não era chamado. Um vendedor tentava vender um serviço a um colega meu. Como não tinha o mínimo interesse no produto nem na conversa fiquei atento às expressões corporais do vendedor (que era giraço). Foi o suficiente para perceber que ele não acreditava em nada do que estava a dizer.Era um mau vendedor. Apesar do seu discurso entusiasmado, o corpo traía-o. As mãos pegavam nas brochuras mas desistiam, o pé batia com impaciencia e, em geral, via-se que não queria estar ali.
Eu acho piada a vendedores, mas divirto-me mais quando são daqueles que acreditam piamente no que estão a vender, que se acham capazes de nos mudar a vida. É um entusiasmo artificial mas torna-se quase legítimo.
Em tempos morei com um amigo que, entre empregos dignos desse nome, teve de andar a vender enciclopédias. Todos os dias chegava de rastos a casa por se sentir mal a tentar impingir livros inúteis a gente que mal sabia ler e que mal tinha dinheiro para comer. Nas primeiras semanas ele ainda conseguia ter um mínimo de entusiasmo, e achava as enciclopédias lindas, com as suas capas de couro com letras douradas e ilustrações multicoloridas. Depois, cometeu o erro de as ler. Não tardou a despedir-se.
Sempre tive a impressão de que uma boa venda é feita com base numa verdadeira fé. É por isso que a maioria dos padres não me convence. Por outro lado, não há nada mais impressionante do que encontrar um que acredita piamente na infinita bondade de Deus. É contagiante. Infelizmente, a fé postiça só dura enquanto estamos ao pé deles. É por isso que um bom vendedor nunca deve dar a impressão de que se quer ir embora.
De uma forma muito pessoal, achei este édito muito interessante, pois as minhas actividades profissionais sempre estiveram ligados às vendas, incluindo os meus anos de ensino, pois leccionar é de alguma forma, "vender" cultura.
ResponderEliminarE concordo em absoluto quando dizes que só acreditando realmente naquilo que queremos transmitir, o possamos fazer com sucesso.
Os melhores professores que tive eram os que acreditavam no que ensinavam, sem dúvida.
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